Os brigadianos andam queimando pneus em busca de salário melhor. Meu pai era brigadiano. Eu sempre quis entender a psicologia dos policiais, militares ou não, brasileiros. É uma profissão estranha. Ganha-se muito pouco para correr risco de vida em defesa da sociedade. Policial só tem deveres. Não pode fazer grave. Não pode fazer manifestações fardado. Por qualquer coisa, cadeia. Deve morrer por nós tendo como recompensa um salário miserável. Mesmo ganhando muito pouco, deve ser ético, responsável, bem-educado, sereno, boa gente e heroico. Nossa sociedade é hipócrita. Quer bons policiais, mas não quer gastar muito com eles. Policial é pago com impostos. A sociedade quer excelentes policiais e poucos impostos.
Se eu fosse brigadiano, pegaria cana todo mês. Faria greve e exigiria ganhar muito mais. Brigadianos só pagam o pato. Arriscam-se por nós e são vítimas de preconceito. Tem gente que sente medo de policial. Vê o policial como inimigo, o repressor. É assim com qualquer agente da lei. O sujeito que dirige falando ao telefone fica indignado quando recebe multa. Brigadiano, até pouco tempo, era chamado de "pé de porco". Policial civil era "rato". O machismo autorizava falar em "mulher de brigadiano", esposas que ficariam felizes em apanhar. Eu, se fosse brigadiano, queimaria muito pneu por aí. Exige-se que o policial não seja corrupto. Mas ninguém o recompensa por essa probidade posta à prova diariamente. Eu não me arriscaria a morrer por quem quer que seja por menos de R$ 1 mil mensais. Minha vida custa um pouco mais. Uau!
Vereadores, deputados, juízes, promotores públicos, médicos, todo mundo ganha mais do que policial e professor. Por quê? Mera questão de quantidade. A sociedade precisa de mais professores e policiais. Logo, logicamente, eles devem ganhar menos. Eis o paradoxo que ninguém enfrenta. Sonhamos com uma tropa submissa e corajosa, que morra por nós sem pedir aumento. Um vereador não pega sol ou chuva na rua, salvo quando esquece o guarda-chuva ou vai à praia faltando a uma sessão no parlamento. Policiais e professores funcionam como pilares sociais. Quem os valoriza por tudo o que fazem? São obrigados a fazer cumprir leis esdrúxulas aprovadas por legisladores que ganham muito mais e ainda se corrompem. Morrem no campo de batalha do cotidiano. Ninguém dá bola. Faz parte da profissão. Problema deles. Policial é como poste. Ninguém cumprimenta nem afaga.
Todo vereador, deputado e senador deveria ser obrigado a ser policial e professor por uma semana. Aí, eles veriam o que é bom para a tosse. Iam se urinar de medo. A maioria aceitaria um trocado para arredondar o final de mês. Uma parte daria no pé 1 hora depois. Ser policial é padecer no inferno e ainda bater continência. Queimar pneu é pouco diante da péssima remuneração. Eu sempre me pergunto: por que alguém quer ser policial? Mais duro do que isso, só professor. O sujeito faz uma licenciatura, paga caro e vai ganhar R$ 400 reais para educar filho malcriado dos outros. É mole? É pura dureza.
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
Fonte:http://www.correiodopovo.com.br
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NOTA DO EDITOR: O autor deste texto foi muito feliz em sua análise só esqueceu de dizer que os governos, sucessivamente, independente de partido, tem prometido, durante as campanhas eleitorais, valorizar os policiais, porém ao serem eleitos esquecem suas promessas como um passe de mágica.
Pelo visto os brigadianos cansaram de serem feitos de idiotas e agora estão cobrando as promessas do governador Tarso, que prometeu estabelecer o salário de R$ 3.200,00 (PEC 300) até o fim de seu governo.
A desculpa de que não tem dinheiro para cumprir a promessa é muito surrada e já foi utilizada por inúmeros inquilinos do Palácio Piratini, devia saber as condições financeiras do estado antes de assumir o governo, pois se prometeu tem que cumprir!
O abono oferecido pelo governo é um escárnio, pois abono não é salário e os policiais querem ver seu árduo trabalho reconhecido com uma contrapartida salarial adequada e justa que lhes possibilite uma vida digna para sí e seus familiares. Onde está a vontade política e a coerência que o PT sempre cobrou dos outros partidos quando era oposição?
O resto é discurso diversionista!!!
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